Diálogo com o Presidente
Muito além das creches
 

É extremamente louvável o empenho das diversas instâncias governamentais na construção de mais creches para atender a grande e reprimida demanda de vagas no Brasil. Porém, não podemos aceitar a ideia simplista de que a construção de creches é a solução mágica para a promoção do Desenvolvimento da Primeira Infância. A atenção a essa faixa etária vai muito além do ambiente “escolar”, exigindo os óbvios cuidados de saúde, alimentação e higiene, mas também, e sobretudo, o suporte emocional de vínculos afetivos, a experiência da interação com o outro, o respeito aos tempos, ritmos e espaços da criança com suas brincadeiras, suas tentativas e erros, seu universo de fantasia dentro do qual ela descontrói a realidade para poder compreendê-la e reconstruí-la.

Nesses processos, o papel dos pais, da família e dos cuidadores é determinante. A experiência mostra que uma família estruturada, que ama e educa seus filhos, consegue suprir praticamente todas as necessidades de uma criança durante os três primeiros anos de vida.
A frequência à creche é impositiva quando a família não tem condições, por questões operacionais, materiais ou emocionais, de atender aos filhos da forma adequada. Isso quer dizer que a creche não deve ser o principal instrumento de promoção ao Desenvolvimento da Primeira Infância, senão deve ser um recurso complementar de apoio às vivências que a criança merece ter em seu ambiente familiar.

Então surge a pergunta: vale mais investir em creches ou em atenção à família? Não existe uma resposta simples. Investir na construção de creches é a “solução” mais rápida, visível e solicitada pela população. Mas não se pode transferir às creches, por melhores que sejam, a tarefa de prover todas as demandas cognitivas, emocionais, sociais e culturais da criança pequena. Além do mais, o relatório do Banco Mundial intitulado Educação Infantil: Programas para a Geração Mais Importante do Brasil (veja a resenha do primeiro capítulo aqui), cita o quanto é essencial que creches deixem de ser vistas – e utilizadas – apenas como um lugar de apoio às mães que trabalham para se tornarem verdadeiros estabelecimentos de ensino.

A combinação de mais vagas em boas creches, a capacitação dos profissionais de creche para uma visão mais integral do processo de desenvolvimento dos pequenos alunos e um bom programa de visitação familiar – que oriente os pais na complexa e prazerosa missão de cuidar dos filhos – seria o ideal para que a sociedade brasileira passasse a tratar a Primeira Infância com o respeito que merece. Só assim, equilibrando ações de curto, médio e longo prazo, conseguiremos fortalecer o Desenvolvimento da Primeira Infância, especialmente das camadas mais pobres da população, de modo a garantir que meninos e meninas possam atingir todo o potencial para o qual nasceram.

Boa leitura!

Eduardo Queiroz, diretor-presidente da FMCSV

 

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