Fonte: Zero Hora, Porto Alegre – RS
13 de setembro de 2012
Júlia Otero, Especial*
A vida em abrigos para crianças abandonadas pode causar problemas que vão de QIs abaixo da média até depressão. Ainda assim, os prejuízos podem ser minimizados com a adoção.
Mais do que uma opinião, as conclusões são resultado de uma pesquisa do professor de pediatria e neurociência Charles Nelson III, da Universidade de Harvard (EUA), que palestrou ontem no II Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância, em São Paulo.
O estudo é realizado desde 2000 em seis instituições da Romênia. O pesquisador analisou 68 crianças que vivem nesses locais e comparou com outras adotadas e com algumas que nunca saíram da casa dos pais biológicos. O resultado entre os três grupos foi surpreendente. As que estavam em abrigos do Estado apresentavam QI com até 20 pontos de diferença entre as que eram educadas pelos pais. A vivência nessas instituições, diz o professor, pode causar danos cerebrais para toda a vida, pois é na infância que boa parte do cérebro é desenvolvida. Os motivos são a falta de referências materna e paterna, que daria suporte emocional, e a carência de atividades que estimulem a criança a pensar e agir.
– As crianças são tratadas como iguais. Tomam banho na mesma hora, comem na mesma hora, dormem na mesma hora. Não tem individualidades – diz Nelson III.
A adoção surge como possibilidade para reduzir essas falhas. Nos estudos dos pesquisadores, ele notou que o QI das crianças após a adoção se elevou para 89 ou 90, mas não a 100 – índice médio de crianças que nunca saíram da casa dos pais biológicos.
– Nós também podemos reduzir a depressão e a ansiedade, mas sempre haverá a possibilidade maior de incidência nesses casos – informa.
Com o resultado em mãos, o governo romeno reduziu o número de abrigos e começou a incentivar a adoção. Prática que, segundo Nelson III, é a melhor recomendação: – Ser de orfanato não quer dizer que as crianças terão problemas. Mas significa que os pais terão que investir mais esforços na criação.
O II Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância ocorre no auditório do Hotel Renaissance, na capital paulista. Entre os palestrantes há especialistas que se dedicam ao estudo das políticas públicas voltadas à primeira infância e gestores públicos.
Do evento, que começou ontem e se encerra hoje, participam cerca de 300 profissionais e estudantes da saúde e educação.
* A repórter viajou a convite da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal.
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