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Atuação com famílias: perspectivas internacionais

J. Lawrence Aber, professor de Psicologia e Políticas Públicas da Universidade de Nova Iorque, EUA, abriu sua palestra definindo, em termos gerais, o que é pobreza familiar: “É quando uma família ganha menos que a renda mínima diária por pessoa e esse recurso não cobre as suas despesas”.

Para ele, a pobreza não é apenas a escassez de recursos materiais, mas a restrição do direito à participação social e ao recebimento dos direitos garantidos a cada cidadão. A perda da dignidade, a vida em habitações de risco, a violência, a impossibilidade de fazer escolhas, tudo isso está no escopo da pobreza.

Aber comentou que ficou impressionado com o compromisso, a paixão e a energia dos brasileiros em fazer diferença na Primeira Infância das crianças do País. “É preciso olhar para o Brasil como uma nação global que pode ensinar outros países como fazer também”.

Existem algumas tendências, associadas à redução da pobreza, presentes no desenvolvimento das nações. A taxa da fertilidade decrescente é uma delas. Com menos filhos, as famílias têm mais recursos para investir na Saúde e na alimentação. Ao mesmo tempo, acabam mais vulneráveis porque, encolhidas, possuem um número menor de pessoas para dividir responsabilidades e ajudar nos momentos de crise.

Outra tendência é o aumento da expectativa de vida que, por um lado, é um avanço, mas, por outro, aumenta os custos públicos para cuidar dos idosos, diminuindo o investimento na Primeira Infância.

Mais uma tendência: a migração da população rural para os centros urbanos, o que melhora as perspectivas para quem migra, mas enfraquece a rede de apoio do campo. A participação crescente da mulher no mercado de trabalho é outra tendência que leva ao aumento da renda familiar, mas, muitas vezes, gera conflito com o parceiro, que nem sempre apoia a companheira.

As novas composições familiares fazem parte da realidade de hoje. Muitas mulheres estão sozinhas criando seus filhos, o que lhes garante mais liberdade. No entanto, elas podem se sentir fragilizadas em certas situações, porque nem sempre têm com quem compartilhar os momentos difíceis.

Doenças como o HIV acabaram por levar irmãos mais velhos, avós, tios a cuidarem de crianças, filhas de pais que morreram, gerando outra conformação familiar.

Diante de tudo isso, muitas políticas têm sido realizadas para dar conta de tantas demandas sociais. No entanto, é preciso avaliá-las para saber se estão respondendo efetivamente a cada uma delas.

Mapear e melhorar as intervenções

Segundo Aber, está em curso a construção de uma rigorosa base de dados para analisar demandas e iniciativas do mundo todo, voltadas à infância. É o World Priority Areas, um mapa que faz uma análise geral das realidades e das ações sociais.

Alguns tópicos são diferentemente trabalhados em cada nação. A licença maternidade, por exemplo, não é um direito para muitas mulheres. Outro dado é que a maioria dos países não aceita que os pais se ausentem do trabalho para cuidar da saúde de seus filhos.

No final dos anos 1980, foi idealizada a Convenção dos Direitos da Criança, definindo, entre vários aspectos, que toda criança tem o direito ao desenvolvimento físico, mental, social e moral. Diante dessa premissa, qual deve ser o papel dos governos e dos pais? Essa discussão ainda não chegou a uma conclusão e ela precisa ser cada vez mais confrontada.

Aber encerra sua apresentação levantando tópicos que considera essenciais àqueles que pensam e definem políticas públicas voltadas à Primeira Infância:

  1. A Ciência e a pesquisa podem nos ajudar a agir e a preencher lacunas. No entanto, é importante fazer experimentações para que dados mais precisos sejam recolhidos e sirvam à melhoria da qualidade de vida.
  2. A qualidade das intervenções é sempre um desafio e tem a ver com a interação dos processos. O que é essencial à qualidade é o grau de responsabilização e engajamento dos pais, educadores e cuidadores.
  3. É preciso descobrir os ingredientes dos programas que estão dando certo.
  4. É essencial que tenhamos conhecimento e consciência da variabilidade de crianças que precisam ser cuidadas.
  5. É importante considerar a variabilidade de tempo da criança, não só para garantir a sua sobrevivência, mas para preservar o seu bom desenvolvimento.
  6. Tudo está interrelacionado e precisamos abraçar a complexidade desse desafio.

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