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Cuidando das duas gerações – uma nova perspectiva

Joan Lombardi é consultora sênior da Fundação Bernard van Leer, da Holanda. Nisha Patel é consultora independente para políticas e filantropia, dos EUA.

Lombardi abriu o painel afirmando que “eu e Nisha temos crenças diferentes sobre a família. Eu penso sob o ponto de vista do desenvolvimento infantil e ela sob o aspecto econômico do núcleo familiar”. E continua: “O que se sabe é que se a família vai bem, os pais ficam felizes e os filhos só têm a ganhar”.

Por isso, Lombardi acredita que cuidar das duas gerações pressupõe melhorar o desenvolvimento da criança e a capacidade dos pais para cuidar dela. “Estamos sempre perguntando aos educadores e outros especialistas o que as famílias precisam. As respostas variam. Mas raramente perguntamos às famílias do que de fato elas necessitam”, afirma.

Os educadores defendem que pais e mães têm de acreditar no seu papel essencial no desenvolvimento dos filhos. Quando questionados, os pais reivindicam mais oportunidades para eles e para os filhos, mais tempo para estar com a família, porque se sentem estressados e vivem ocupados demais.

Lombardi falou sobre o programa Head Start, uma iniciativa do governo federal dos Estados Unidos, para responder às necessidades dos pais e a visão dos educadores. Ele existe há cinquenta anos e tem ajudado a reduzir a pobreza.

Mesmo assim, o País ainda tem um milhão de crianças de três a quatro anos em famílias de baixa renda. Isso significa que uma entre quatro crianças é pobre. A atuação da política começa na gestação e termina nos três anos da criança. Um dos projetos do Head Start é o “Duas Gerações”, no qual as famílias formam comunidades e definem políticas públicas para seu bem-estar.

A estratégia do emponderamento

As famílias fazem um acordo com o programa, envolvendo metas e resultados que pretendem alcançar com os benefícios recebidos. Elas também participam do comitê coordenador, o que facilita o engajamento e o compromisso com a proposta.

Como resultados, esperam-se fortalecer a relação entre pais e filhos; transformar os pais em educadores (mas não em professores); ter nos pais os defensores e líderes de suas comunidades; ter os pais como “aprendizes”.

“Se queremos melhorar o ambiente, ou seja, o núcleo familiar, para que a criança possa se desenvolver melhor, não podemos criar programas que não engajem e emponderem as famílias”, ressalta Lombardi. Ela alerta para o respeito às distintas realidades: “Há tipos diferentes de família e as diversidades precisam ser acolhidas”.

Lombardi afirma que muitos programas estão direcionados às crianças até três anos, ajudando a combater a desnutrição e a mortalidade nesse período. Porém, questiona o que acontece depois com esse indivíduo. Embora o foco da Educação seja garantir que toda criança vá para a escola, ela não está aprendendo o que deveria. Não há qualidade no ensino.

Outro problema social grave, que impede o desenvolvimento infantil sadio, é a violência dentro e fora da família.

Para combater tudo isso, o sucesso dos programas que trabalham a “parentalidade”, via visitas domiciliares e recursos afins, precisam estar pautados em: objetivos e metas claros; equilíbrio entre benefícios e necessidades das famílias; treinamento e supervisão; intensidade e dosagem das visitas. Outros aspectos a serem contemplados são: ter como foco os pais e os filhos; incluir outros familiares no processo (avós, irmãos); e integrar as áreas de Saúde e Educação. É importante também medir o bem-estar social das famílias para garantir que as intervenções sejam eficientes e gerem mudanças na vida da criança.

“Temos de nos unir para implementar políticas bem-sucedidas. Não dá para fazer nada sozinho”, finalizou Joan Lombardi.

Fortalecer os adultos para que cuidem de suas crianças

“Quero começar minha explanação dando um panorama atual dos EUA”, inicia Nisha Patel. “Nas últimas cinco décadas passamos por uma grande mudança demográfica. Nossos programas sociais foram desenhados no passado. Hoje, 45% das crianças vivem em famílias de baixa renda; 25% estão em lares monoparentais, com as mães; 25% dos alunos que frequentam universidades são pais ou mães. Temos uma maior diversidade étnica e racial. Há mais demandas do mercado de trabalho para quem possui habilidades específicas, a tecnologia também mudou e inova cada vez mais”, explica.

Investir na Primeira Infância significa reduzir a criminalidade, o número de jovens grávidas, as taxas de prisões, dentre outros problemas sociais. A formação dos pais, segundo Patel, influencia na vida dos filhos e sem ela não há mobilidade econômica. É importante focar na “parentalidade”, mas sem perder de vista os pais para que as famílias possam dar melhores condições de desenvolvimento aos filhos.

Pensando nisso, procurou-se criar uma intervenção que melhorasse o nível educacional dos pais, partindo de dois pontos distintos. O primeiro via atendimento à criança para depois envolver a família. O segundo via treinamento profissional para depois atuar junto às crianças. As ações concentram-se na educação infantil; educação universitária; empregabilidade; suporte econômico; e capital social (apoio de pessoas da comunidade).

O programa CAP Tulsa, em Oklahoma, EUA, por exemplo, acontece nos centros de educação infantil e atingem os pais. Um estudo de mercado é realizado para detectar qual nicho está em ascensão. Com essa informação, é oferecido aos pais treinamento para que possam candidatar-se às vagas de trabalho. Esse treinamento acontece durante o período da Primeira Infância dos filhos e melhora a condição econômica das famílias. Os pais passam a ajudar as crianças a se desenvolverem e sentem-se motivados a estudar mais.

Outro programa importante acontece nas universidades. Jovens grávidas podem criar seus filhos em dormitórios específicos no campus. Contam com escolinhas, recebem suporte econômico e usufruem do capital social. Essas jovens conseguem se formar, conquistam um bom emprego, ganham bons salários e se tornam autossuficientes, tendo condições de contribuir, em todos os níveis, ao desenvolvimento de seus filhos.

O Jeremiah Program, em Minneapolis, EUA, é outra ação social de emponderamento. Líderes comunitários se unem para enfrentar a pobreza local. Eles sabem que um grupo especialmente vulnerável são as mães solteiras que não conseguem sustentar a si mesmas e aos seus filhos. Para apoiá-las, constroem residências para elas e centros para a Primeira Infância. Também ajudam essas mulheres a se colocarem no mercado de trabalho. “Ou seja, tirar as mães solteiras da pobreza, dando-lhes moradia e emprego, está diretamente relacionado ao bem-estar da criança”, concluiu Patel.

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