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Silêncio! Mãe em formação

Quando Maria Flor, hoje com 2 anos, nasceu e começou ter as primeiras cólicas nada parecia resolver. Mãe de primeira viagem, Alessandra Marques tentou o exercício da “bicicletinha” com as pernas da nenê; colocou a pequena contra o peito do pai sem camisa; pôs ela de barriga pra baixo; usou pano quente, deu chá; buscou orientação em livros e sites, conversou com amigos... E a sensação de culpa de não acertar só aumentava.

A história de Alessandra parece familiar, não é? Seja pra fazer qualquer coisa relacionada ao nosso filho, as opiniões são muitas, divergentes entre si, e a mãe fica perdida mesmo. Muita calma nessa hora, é só ter bom senso pra lidar com elas.

Um pulo na história

Primeiro vamos voltar no tempo pra pensar algumas coisas, há alguns séculos, as famílias eram grandes e com muitos filhos. Havia muita convivência com crianças nesse ambiente familiar e os parentes costumavam compartilhar experiências – até porque o mais comum era todo mundo morar na mesma casa. Na hora de criar os filhos, os costumes e tradições estavam ali, e bastava perguntar pra avó, ou a avó da avó, o primo, o primo do primo...

Hoje, o tamanho das famílias é menor. No Brasil, por exemplo, passamos de cerca de 6 filhos por mulher dos anos 60 para uma média atual de menos de 2 filhos por mulher (dados do IBGE). No meio do caminho, também muitas mudanças de comportamento fizeram com que as pessoas revissem conceitos e começassem a questionar se o que a mãe, a avó e a tataravó fizeram realmente é o certo, e se esse é o modelo a ser seguido.

Famílias pequenas e cada um na sua casa, uma rotina de trabalho corrida e ainda a internet invadindo a vida de todo mundo, inclusive da grávida e da mãe... Aí já viu: com a falta de ter com quem dividir as informações, os blogs e redes de mães na web nunca foram tão bombados. É a chamada Sociedade da Informação: todo mundo conectado e as informações correndo muito rápido pelos meios de comunicação.

É aí que entra a história da Alessandra e de muitas outras mães: o maior acesso a diferentes fontes de informação que a mulher tem hoje pode ajudar a lidar com seus dilemas maternos. Só que... se apoiar em qual delas?

Muito ajuda quem pouco atrapalha

As pessoas tentam ajudar, mas dá um nó danado: a vizinha que insiste com seu método infalível de desfraldar, a colega de trabalho que acha absurdo você pensar em abandonar o trabalho...

Na internet não é diferente. Segundo a psicóloga Karyne Mariano Lira Correia, madrasta de Isabela, quando falta qualidade ao conteúdo, o que se vê mais confunde do que ajuda. Na web, há facilidade de acesso, sim, mas a dificuldade de triar a informação suspeita das boas é grande também. “Da mesma forma que a mãe pode se beneficiar de informações úteis, também pode ter preocupação desnecessária ou tomar decisões equivocadas por seguir orientações não confiáveis”, pondera ela.

Outro problema são as autorias: qualquer um fala qualquer coisa. De acordo com Andrea Wolffenbüttel, gerente de comunicação da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal(FMCSV), a mãe precisa ficar de olho. “A internet é um espaço aberto onde todos podem se manifestar, independentemente de seu conhecimento ou formação.” diz.

Como fazer então? “A mãe deve pedir indicações aos pediatras, professores e aos demais nos quais confia.” orienta ela.

Espelho, espelho meu

É comum a mãe se espelhar em pessoas na mesma situação, seja compartilhando experiências com elas ou apenas lendo seus blogs. “É fato que nós aprendemos não só por instrução, mas também pelo exemplo de outras pessoas.” explica Karyne. Para Marcelo Cunha Bueno, pai de Enrique e diretor pedagógico da escola infantil Estilo de Aprender, conversar com os amigos que também são pais é recomendado e superimportante. “Quando os pais conversam com pessoas no mesmo momento de vida, cria-se uma rede de entendimento das dificuldades, e isso faz bem.” diz ele.

O que não pode é achar que a mesma dica vale pra todo mundo. O parto da amiga ou a rotina da casa da sua irmã nem sempre é o que funciona na sua vida. “Somos diferentes, e portanto precisamos considerar essas diferenças”, ressalta Karyne. Portanto, é preciso autoconhecimento.

A mãe que eu quero ser

Existem bons exemplos que a gente gostaria de seguir e de repente não servem para a sua vida. E a mãe que os outros querem que a gente seja, então? Quanta autocobrança essas mulheres ideais, essas mães-modelo causam a você!

Mas acredite, você tem em você todas as condições de ser a melhor mãe que pode. É preciso respeitar que cada pessoa tem seu jeito peculiar, e essa é a graça. “É muito importante que as mães aprendam a respeitar seus próprios limites e a considerar que elas só podem fazer o que são humanamente capazes", diz a psicóloga.

Seja para pais de primeira viagem ou não, Marcelo orienta: busque, sim, vários pontos de vista, mas não ache que todos eles são verdade absoluta. “Não existe um certo e errado”, aponta.

Sabendo disso e feita uma escolha, a palavra chave é coerência. Todos os dias quando se deitar para dormir, faça-se a seguinte pergunta: o que estou fazendo como mãe corresponde à forma como eu vejo o mundo e o futuro dos meus filhos? “Mas ser coerente não é acertar sempre. É se arriscar ao erro. E se a mãe se entende com esse risco, não tem culpa, consequentemente não tem condenação. E aí educar fica mais leve” finaliza ele.

Por fim, aposte no bom e velho instinto materno. Use as informações confiáveis a seu favor, mas acredite no poder de escolha que você, até sem saber ainda, tem aí dentro de si mesma. É ele que, no fundo, sempre consegue fazer de você uma mãe única: aquela que é da maneira como você acha que tem que ser.

Oh, duvida

Como tomar a melhor decisão – em questões como o tipo de parto ou a educação dos filhos – com tantas informações diferentes? Sugerimos uma saída em 3 passos:

  • 1. Ter consciência de que ter dúvida é absolutamente natural
    Ao ter uma dúvida, é bom procurar resolve-la e questionar as respostas - o que é uma postura muito legal na educação.
  • 2. Ter senso crítico com o que leu ou ouviu sobre a dúvida
    “Observe as referências a estudos citados e a procedência das informações”, orienta Karyne.
  • 3. Caso se informar sozinho não resolva, procure ajuda
    Pode ser um serviço de orientação a pais feito por psicólogos, tanto em grupo quanto individualmente. Se a dúvida for referente à escola, marque uma reunião com a orientação pedagógica. Isso faz toda a diferença.

6 princípios básicos para se informar melhor

  • 1. Cuidado com o Dr. Google
    É só uma tosse de criança, mas, depois de pesquisar no Google, a mãe entra em pânico. Quem nunca? “O ideal é ir sempre às fontes seguras”, orienta a psicóloga Karyne. Mas em questões médicas, as hipóteses são tantas... Nada como o pediatra do seu filho decidindo o que se aplica ao caso.
  • 2. Boatos x respostas científicas
    É fato: nos EUA, se espalhou uma hipótese de que a vacina contra sarampo estaria associada ao autismo. Daí, mães passaram a não vacinar os filhos... e o sarampo, de quase radicada, passou a preocupar de novo. E de comprovado contra a vacina não há nada, nenhuma pesquisa. Muito pelo contrário.
  • 3. Como meus pais podem não ser um critério
    O exemplo mais claro disso é a questão da palmada. Hoje há muitas fontes de referência que ajudam os pais a entenderem como conversa e bons exemplos pautam uma boa educação. E que as palmadas, no fundo, são exemplos bem negativos.
  • 4. Parto e amamentação sem tabu
    Não é que virou “moda”: a Organização Mundial da Saúde e os principais centros de pesquisa vivem reforçando como o parto normal e a amamentação no peito são as opções mais recomendadas. Claro: essa é a verdade geral, que pode não se aplicar a certos casos.
  • 5. Desenvolvimento Infantil
    Hoje, há muita informação sobre a importância de se estimular a criança com brinquedos ou livros. O Radar da Primeira Infância, site da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV) é uma fonte e tanto. “A ideia é disseminar conhecimentos a milhares de mães”, diz Andréa Wolffenbüttel.
  • 6. Seu filho dá muitas respostas
    Maria Theresa Marcílio, presidente da organização AVANTI, que faz parte da Rede Nacional da Primeira Infância da uma dica essencial: “Com tantos livros e fontes, a mãe não pode esquecer que a criança é a principal informação. Ela e o conhecimento que só a mãe tem dela”, lembra.

Consultoria: Karyne Mariano Lira Correia, madrasta de Isabela e psicóloga clínica; Marcelo Cunha Bueno, pai de Enrique e diretor pedagógico da escola infantil Estilo de Aprender; Andrea Wolffenbüttel gerente de comunicação da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV) e Maria Theresa Marcílio, presidente da organização AVANTI

 
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