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Publicado no Jornal Correio Braziliense (Brasília/DF) - seção Revista do Correio - no dia 15 de outubro de 2013

Uma infância blindada

A reportagem completa ocupou a capa e mais seis páginas da revista. Aqui transcrevemos apenas o trecho que menciona a FMCSV. Caso você queira ler a íntegra do texto, basta clicar aqui.

Compromissos

Como fazer para que a criança não entre em contato com influências negativas? Como detectá-las? A psicóloga Tânia Lobountchenko explica que identificar o que não é bom para os filhos passa por um conceito simples, mas pouco seguido: bom senso. Não permitir que os filhos assistam a filmes, programas de TV, escutem músicas ou leiam livros que façam com que eles se tornem precocemente sexualizados, agressivos ou sem limites é um começo. Segundo ela, os pais devem avaliar a “maturidade psíquica” dos pequenos

antes de expô-los a certos conteúdos. O filtro, porém, é limitado. “A criança precisa ser, pensar, sentir, agir, explorar e se desenvolver como criança”.

A terapeuta corporal Thaiani Tolfo Carneiro, de 25 anos, conta que uma de suas maiores preocupações com relação à criação da filha, Liz Lopez Carneiro, de 1 ano, são as influências a que ela estará exposta quando crescer. Por isso, ela tenta criar um ambiente “protegido”. Por exemplo, durante a gestação, Liz já escutava “música boa”. “Geralmente, era jazz, mas também Beethoven para crianças. O parto da filha foi humanizado, feito na piscina de casa. Liz está ensaiando seus primeiros passos, anda segurando a mão de um adulto e quase não encontra obstáculos, já que a mãe dispensou o uso de “chiqueirinho”. Também não há tapetes em que possa tropeçar. “Eu e o pai dela deixamos ela livre para andar por onde quiser”, justifica Thaiani. Mesmo com a pouca idade, a garotinha já faz aulas de motricidade, musicalização, artes e natação, para ajudar em seu desenvolvimento.

A menina já tem contato com a televisão, mas nunca viu um desenho animado. “Não queremos que ela assista a coisas comerciais. Ela não vai ser uma criança alienada, criada como um robô”, justifica a mãe. A alimentação é regrada e preparada por Thaiani diariamente, só com produtos naturais. A ideia é acostumar o paladar da filha a alimentos saudáveis para que, no futuro, eles se sobressaiam às opções gordurosas e açucaradas. “Quero que ela tenha autonomia, que não seja influenciada por publicidade”, diz.

A maneira “politicamente correta” que Thaiani educa a filha recebe críticas e elogios. “A família interfere muito, quer passar hábitos amigos”, conta. De indicações de desenhos animados que “acalmam” os bebês a receitas à base de farinhas para complementar o leite da mãe, ela diz que já ouviu de tudo. Mas não se abala. “A criança pode ter outras opções”. Thaiani não trabalha fora, mas acorda às 6h para preparar as refeições da filha. Enquanto a menina vai à escolinha, ela continua sua pesquisa. “Quero aprender a massagem tranquilizadora Shantala”, conta.

Atividades variadas realmente ajudam no desenvolvimento infantil. Dependendo da idade e do tipo de atividade, Ely Harasawa, psicóloga e gerente de Programas da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, em São Paulo, diz que elas podem ser benéficas para o desenvolvimento físico, social e mesmo cognitivo da criança. Porém, é preciso prestar atenção ao que alguns psicólogos apelidaram de “síndrome do miniexecutivo”, ou seja, o excesso de compromissos durante a infância.

“De modo geral, inscrever as crianças em várias atividades diferentes não é positivo porque compromete o ‘sagrado’ tempo do brincar”, reforça. Por meio das brincadeiras, a criança reproduz a realidade de forma controlada, para compreendê-la melhor e vivenciar seus medos, anseios e emoções, segundo a especialista. Sobretudo na primeira infância, período que engloba os cinco primeiros anos de vida, Harasawa salienta que o excesso de atividades pode acabar prejudicando o desenvolvimento da criança, seja pelo grau de esforço, seja pelo tempo dedicado.

Além de não ter tempo para brincar, a criança pode ficar estressada ou se ver obrigada a administrar uma agenda compatível com a de um adulto super atarefado. Outro efeito colateral pouco percebido pelos pais são as expectativas deles próprios com relação ao que a criança aprende. “Consciente ou inconscientemente, muitos paiscomeçam a esperar um ‘craque’ de futebol, um ‘virtuose’ no piano, um ‘campeão’ de caratê ou um ‘gênio’ da pintura”, enumera a psicóloga. “A criança sente essa expectativa e passa a tentar atende-la, o que é algo muito pesado e frustrante”.

 
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