Ter essa consciência levou organizações, governos e acadêmicos a rever posturas e ações. Já se sabe que a aprendizagem começa no nascimento e as intervenções para as gestantes e a criança pequena têm de ser interligadas em um processo contínuo que cuide do ecossistema da criança, ou seja, dela mesma e de sua família.
Lisa apresentou ao público a caixa de ferramentas filantrópica para a escalabilidade de programas e políticas públicas, onde estão contidos seis valores: desenvolvimento de conhecimento (pesquisas e avaliações); entrega dos serviços de forma documentada; capacitações; campanhas de conscientização e mobilização social; desenvolvimento e implementação de políticas públicas; garantia de infraestrutura que atue como suporte das intervenções (governo, sistema financeiro e rede social).
Sobre avaliação, Lisa falou de várias estruturas, que podem estar sob a forma somatória, informativa ou de desenvolvimento, mas destaca a importância de uma equipe de consultores (que analise se as ações estão alinhadas com as necessidades do público-alvo), dos estudos de casos e das avaliações individuais.
Para ela “a avaliação é uma ferramenta de aprendizagem e não de monitoramento”.
A complexidade da intervenção também faz toda a diferença nas estratégias de escalabilidade e na forma de avaliar. A especialista usou um exemplo da Holanda. O programa nacional Shaken Baby salvou vidas. O hábito de sacudir o bebê com força, que compromete a estrutura do cérebro, foi banido daquela sociedade e é punido pela lei. Para convencer o poder público foi só mostrar o quanto a medida reduz o custo social na área da Saúde, ou seja, um forte argumento econômico. A política levou dois anos e meio para ser implementada e colher resultados, um período considerado bastante curto para uma intervenção nacional.
Do outro lado do mundo, no Quênia, a história é outra. A política pública de educação está em fase de implementação há 40 anos e já custou 45 milhões de dólares. O País prevê a universalização da educação infantil (o único em toda a África). Nos primeiros dois anos, a Fundação Bernard Van Leer assumiu o papel do governo. Depois, devolveu a estrutura aos governantes do País.
Criaram um Centro Nacional para Educação na Primeira Infância que começou a publicar materiais de formação, a estruturar currículos específicos e a treinar os educadores. Desenvolveram centros distritais e, depois, um em cada cidade, alcançando cobertura nacional. No final, o Quênia conseguiu um modelo de educação infantil em escala, mas que ainda apresenta uma falha grave porque não organizou o lado da demanda.
Nada foi feito para conscientizar os pais da importância de a criança pequena ir para a escola. Não existem pessoas, nas pré-escolas, que garantam a qualidade do sistema. Ou seja, a eficácia está comprometida por falta de agentes que cuidem e mantenham a qualidade, que envolvam e mobilizem as famílias. Por isso, ao se implementar uma política e aplicá-la em escala, é preciso prever quem vai permanecer ali, cuidando dela.
Sobre inovação, Lisa Jordan ressalta que as novas ciências nos ajudam a entender melhor a natureza integrada da Primeira Infância. Hoje em dia, muitas ações estão dando ênfase ao papel do pai na formação de seus filhos, o que é um novo e importante olhar. Também há uma pertinente preocupação em encontrar saídas para a redução da violência e focar no desenvolvimento de crianças de zero a três anos. Atualmente se fala em estresse tóxico e como ele interfere no bem-estar da criança pequena. Aliás, ela afirma que esse tema tem virado agenda em muitos países e gerado uma redução de custos sociais.
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