Aconteceu Aqui
Como inovação, escala e avaliação se complementam para o enfrentamento de problemas sociais complexos?

O painel final, que encerrou o III Simpósio, reuniu em uma única mesa os maiores especialistas em escalabilidade, avaliação e inovação.

Lado a lado, estavam Lisa Jordan, Richard Kohl, Beverly Parsons e Karlee Silver, mediados por Eduardo Marino, Gerente de Avaliação e Pesquisa da FMCSV.

A pauta do painel eram as questões elaboradas pela plateia durante uma atividade realizada na parte da manhã, sob a coordenação de Mille Bojer.

A primeira questão, que abriu o debate, foi sobre a resistência às mudanças. Ou seja, “como aplicar o novo usando as velhas estruturas?”.



“Não precisamos eliminar as estruturas antigas. É importante avaliá-las e operar com elas”, explica Karlee Silver, que usa um exemplo da Índia para justificar sua opinião. “Há dois anos, um casal resolveu atuar para diminuir a mortalidade infantil entre recém-nascidos, que era de 50%. Não impuseram conhecimentos e regras. Eles usaram a estrutura local. O povo acreditava em espíritos malignos como responsáveis pelas mortes. O casal começou a incluir algumas mensagens de saúde para ‘combater’ o espírito: manter o bebê aquecido, fazer a higiene da criança, cuidar da amamentação, lavar as mãos para cuidar do bebê, deixar a criança com a mãe o tempo todo... Orientações simples, de alto impacto, feitas sem imposições. Agora a população está mais aberta para pesquisas e soluções”.

A segunda questão foi “como compatibilizar interesses e sinergias de todos os envolvidos no processo. E quem deve ser a pessoa que mobiliza?”.

Para Lisa Jordan, “criar sinergia e compatibilidade significa identificar em quais objetivos é possível trabalhar juntos. Não serão 100%. Que sejam 30%. Manter a coisa simples é a melhor maneira”. Karlee Silver complementa: “É importante que todos estejam alinhados com os objetivos finais, que se garanta uma colaboração que leve ao mesmo objetivo e, também, identificar as lacunas no projeto para saber que outras pessoas têm de estar com você”.

Richard Kohl vai além: “Em muitos casos de escalabilidade, há pessoas que ganham e outras que perdem, porque existem alguns interesses por trás de certas ações. Às vezes, alguns profissionais se sentem ameaçados. Foi o caso de uma experiência em que agentes de Saúde deveriam aplicar injeções. Os médicos acharam que isso poderia tirar uma de suas funções e por um bom tempo as injeções não foram dadas”.

“Em termos de colaboração, é saber quem são os líderes e formadores de opinião da comunidade. Perceber se podem ou não aliar-se à causa”, conclui Beverly Parsons.

A terceira pergunta, elaborada pelos grupos de trabalho, foi “como criar um processo avaliativo, de baixo custo e eficaz, para pequenas intervenções?”.

Lisa Jordan explica que “em intervenções muito simples, buscamos as respostas das crianças. Uma atividade é criar um círculo de leitura de mães e crianças que, a cada semana, se reúne na casa de uma delas para colher os resultados obtidos durante a semana, quando as mães deverão ter lido para seus filhos. Pergunta-se à criança que livro ela leu, se gostou... você vai saber se a experiência tem acontecido e os impactos dela na vida dessas pessoas”.

A questão seguinte era sobre o trabalho com as famílias. “Quais experiências são inovadoras e efetivas para fortalecer o cuidado da criança pequena?”.

Karlee defende que “o projeto tem de reconhecer a vida das famílias, porque muitas são caóticas. Considerar o funcionamento familiar antes de colocar o que tem de ser feito”.

“Nas pesquisas realizadas no Peru, percebemos que a quantidade de sono das mães é insuficiente, em média de quatro horas por noite, porque elas têm muitos afazeres. Pouco sobra para o descanso e para cuidar dos filhos. Duas ações que funcionaram para melhorar esse quadro: transporte eficiente e barato para que chegassem ao trabalho e a criação de oportunidades de emprego perto de onde elas moravam”, conta Lisa Jordan.

Sobre as mensagens que os especialistas deixavam ao público brasileiro, Lisa Jordan declarou: “O Brasil tem a oportunidade de liderança mundial no tema da Primeira Infância e se tornou referência com relação ao combate ao HIV. Vocês têm de ter muito orgulho do que fizeram até aqui. E tem de continuar pensando grande”.

“Para mim, tudo o que vi aqui vem como um lembrete de que, embora difícil, os problemas podem ser resolvidos”, afirma Karlee Silver.

“Eu aprendi tantas coisas aqui. Existe um potencial tão grande. O que quero dizer tem relação com o conceito de avaliação, que costuma focar em elaborar a pergunta certa ao longo de todo o processo. Façam as perguntas que importam a vocês”, aconselhou Beverly.

“Temos no Brasil um movimento muito estimulante e animador e o compromisso financeiro do governo para resolver os problemas da Primeira Infância. Mas, ainda há lacunas. Sabemos entregar os serviços, mas não sabemos como fazê-los chegar ao destinatário. Temos ótimas ideias, mas quem vai nos ajudar na ponta para que os municípios possam ser bem-sucedidos? É preciso envolver-se no processo e preencher lacunas”, finaliza Richard Kohl.

 

< voltar
 
 
BOLETIM © FUNDAÇÃO MARIA CECÍLIA SOUTO VIDIGAL – Rua Fidêncio Ramos, 195, cj.42
Vila Olímpia – 04551-010 – São Paulo/SP | fmcsv@fmcsv.org.br | 55 11 3330-2888 | 55 11 3079-2888